31 maio, 2010

Aliás, Renato

É, eu ando de chinelo
Eu não faço a barba.
Mal penteio o cabelo, isso quando não raspo.
Sabe que até facilita a vida.
É uma preocupação a menos saber se a juba está ou não “alinhada”.
Eu me visto mal.
Não combino cores.
Até hoje não sei o que é “ton sur ton”.
E olha que eu deveria saber de tudo.
Eu sou um mentiroso.
Só não conto isso pra ninguém.
Não uso roupa de marca.
Aliás, até uso.
Meu tênis é Nike, a bermuda também.
Até por que foi uma das poucas que me serviu.
Poupas mesmo. Tenho apenas três.
Minha camisa?
Essa eu comprei no Carrefour.
Liquidação, me custaram R$12,00 cada.
O único investimento que fez em mim foram meus óculos, meus amigos.
Aí, você pensa: Vagabundo?
Nada disso, trabalho o mesmo tanto e às vezes até mais do que você.
E isso para ganhar o dobro.
O dobro de esporo, de dor de cabeça, de estresse...
E menos da metade do seu salário.
Não amigo, não é telemarketing.
Não sou louco.
Se bem que um pouco de insanidade não faz mal a ninguém.
Eu sou jornalista.
Grande coisa, você também pode ser.
Mas não vai.
Por que eu sou melhor.
Eu escrevo bem.
E você? Tem coragem de escrever?
Deixar centenas de pessoas lerem e te criticar?
Pois é, eu faço isso.
Se eles não gostam e me criticam.
Mas já viu algum critico ser nome de rua. Avenida, ponte ou estádio?
Nem eu.
Eu não me acho foda.
Eu sou foda!
Eu sou foda e você sabe disso.
E quando eu me formar vou continuar ganhando menos que você e trabalhando muito mais.
Mas quem ri por ultimo sou eu.
Eu sou feliz, eu ando de chinelo.
Não faço a barba.
Eu sou um vagabundo.
Aliás, um vagabundo nato.
Aliás, Renato.
Duas vezes nato.
Nascido duas vezes.
Quem sabe da próxima eu nasça gentil.
Por que nessa, sou jornalista mesmo!

27 maio, 2010

Erá só um adeus

Nem acredito que depois de tanto tempo longe vamos nos encontrar
Os últimos dias dessa viagem parecem demorar mais que ela toda
Contei cada segundo que fiquei longe de ti.
Foi contra a minha vontade. mas tive que me afastar esses últimos meses
Só eu sei o quanto foi difícil
E esse ônibus que parece não sair do lugar
Deve ser ansiedade
Quero muito te ver.
Te abraçar. Te beijar.
Quero te ter.
Já nem sei quanto tempo estou aqui nessa rodovia
As horas não passam
A velocidade é quase nula
Já tentei dormir, mas não consigo
Vejo você em meus pensamentos. Linda
Ao chegar na pequena cidade a ansiedade só aumenta
A cada curva. A cada rua. A cada casinha que passa
Já na rodoviária olho para fora
Nunca ninguém me espera
Mesmo sabendo disso eu sempre procuro por algum conhecido, amigo, parente... Por você
Para minha surpresa e deleite você está lá
Mais linda do que nunca
Meu coração dispara. A respiração já esta ofegante
Tento descer logo do ônibus, algumas pessoas me atrapalham
Falta tão pouco. Esperei tanto por esse momento
Ao descer saio correndo em sua direção
Abraço-te. Ao beijá-la você me vira o rosto
Se nega a me olhar. Mesmo assim me abraça forte
Se vira sem olhar para meu rosto já em prantos
E se vai
Você não estava ali para me receber
Era só para me dizer adeus

20 maio, 2010

Uma ode ao mau humor

Bom dia!
Eu nada respondo.
O que houve, está de mau humor?
E eu sigo calado.
Que foi a patroa dormiu de calça jeans?
E eu sigo ignorando e ganhando fama de turrão, chato, antipático e mal-humorado.
Qual o problema nisso tudo?
Por que raios e tenho que acordar contente todos os dias de minha vida?
Aliás, acordar alegre nem é o mais complicado, o difícil mesmo é ter que demonstrar isso para os outros.

Quer coisa mais irritante que aquele ser que chega todo dia no escritório, com sua garrafinha de água mineral em baixo do braço, cumprimentando todo mundo com um sorriso de fazer inveja a qualquer comercial de creme dental. O dia dele está sempre bom, não tem problemas para resolver, não sofre, não tem angústias, não briga com a família, o time dele nunca perde e o ônibus nunca atrasa. É capaz até de dar uma topada na calçada, olhar para ela, calmo e sereno e dizer “sua marota”.

Ah, tenha dó. Isso não existe. Isso não é humano. É falso, é mentiroso. Ninguém é assim, ninguém.

O mau humor está dentro de cada um de nós, em alguns isso é mais evidente, é claro. Enquanto alguns disfarçam outros externam sua indignação com mais facilidade.

É inerente à pessoa.

No estereótipo do bom moço, o tal que toda mãe sonha para sua filha e toda filha sonha para se casar não está na lista de qualidades ou defeitos o mau humor. Tenho certeza.

Como se isso fosse doença. Não é. É estado de espírito? Talvez para alguns. Pode ser ou apenas estar mal-humorado.

Nunca perdi muita coisa por ser assim desse jeito, talvez uns quatro empregos e umas 257 amizades, que hoje não me fazem falta alguma. Garanto que os poucos amigos que tenho, poucos mesmo, suprem qualquer necessidade que eu já tinha passado.

Acordo ranzinza todos os dias, qualquer palavra dita há mim minutos após esse momento serão ignoradas, para o bem da amizade.

Não tolera pessoas assim? Faça o seguinte, as ignore. Eu faço isso com muitos de vocês e sequer percebem.

Querem que eu mude. Estou mudado. A cada dia estou pior e a tendência não é nada animadora, não para quem convive comigo.

14 maio, 2010

Tudo o que eu quero é você

Já não a tenho em meus braços
Não sou eu quem acaricia sua pele
Só me restaram lembranças
Mesmo assim não consigo tirar você daqui
Meu coração insiste em ter você
Mesmo sabendo que está errado
Eu deveria te odiar
Mas eu sei que te amo
Eu sinto isso
Mas não quero
Já coloquei outras em seu lugar
Mas não consegui gostar de mais ninguém
Esse amor virou uma maldição
Um feitiço do qual não consigo me livrar
Não sei te esquecer
Por mais que eu tente
Sua lembrança sempre vai me atormentar
Na escuridão da noite, sob a luz da lua
A cada estrela que olho vejo você
Tudo o que eu quero é você

12 maio, 2010

Apenas planos

Fizemos planos?
Lembro que brincávamos
Imaginávamos como seria o futuro juntos
Chegamos até a combinar como seria nossos nomes depois de casados
É estranho lembrar isso agora
Não sei você, aliás, sei tão pouco sobre você
Imagino como seria
Como seriamos
Tínhamos nossas diferenças, mas nos dávamos muito bem
É estranho lembrar isso agora
Lembrar de algo que não foi
Mas algo que poderia ter sido
E porque não foi?
Não é hora de questionar isso
Estou apenas me lembrando
Imaginando
Pensando
Lamentando?
Não sei você, mas fiz alguns planos
Não vem ao caso citá-los
Nem me lembro do que
É estranho lembrar isso agora
Não faz muito tempo assim
O engraçado é me lembrar de tão poucas coisas
Seria um bloqueio?
Uma forma de defesa?
Foram apenas planos
Ideias
Imaginações
Sonhos
É isso, foram sonhos
É bem verdade que alguns pesadelos
Mas não foi rela
Nem o que foi real
A realidade já era um sonho
E já está passando da hora de acordar deste sonho
É estranho lembrar isso agora
São apenas lamentos de fragmentos de um sonho real que nunca saiu do meu imaginário
Eram apenas planos.

10 maio, 2010

Reclamações de um Paulistano

Criaram a Lei Cidade Limpa e acabaram com toda a poluição visual que destruía alguns pontos desta cidade. Quanta diferença. Principalmente se você somar a isso o fato de algumas edificações terem modificado e modernizado suas fachadas. Alguns deram uma pintada (há, há, há) na parte da frente, mas já foi alguma coisa. Quem se deu mal foi o pessoal da Formula 1, afinal quem não se lembra dos outdoors durante as corridas?

Logo depois aumentaram a restrição ao rodízio de veículos, acrescentando os caminhões, sendo esses de São Paulo ou não. Restringiram também a circulação de ônibus fretados em determinados pontos da cidade. Tudo isso visando à melhoria do trânsito, que estava (ainda está) a beira de um colapso. Compraram veículos novos, metrôs e trens também. Investiram pesado no transporte público.

Não se pode mais fumar em ambiente fechados, muito menos dirigir embriagado. Chamar meu amigo negro de negão pega mal, de veado o afeminado também. O gordo e o magro se podem zoar à vontade, pelo menos por enquanto.

No banco tenho que ser atendido em 15 minutos, se quiser não recebo mais ligações de telemarketing às 3 da manhã de sábado. O telefone funciona, a internet quase não cai.

Ganhei uma semana de férias por causa da Gripe A – H1N1 que mata menos que uma gripe normal. Mas tive que tomar essa vacina que me deixou de cama um bom tempo.

Não pego mais fila para comprar ingresso no estádio, mas também não como nada do lado de fora do Morumbi por que os ambulantes também foram proibidos.
Meu carro não pode poluir mais, até o CO² querem controlar.

A Cracolândia não é mais a mesma, mudou-se duas ruas para cima. Dizem que proibiram a prostituição, mas o “Vintão” e o “Zé das Tintas”, aqui na Sul estão funcionando como sempre. Quem se ferrou mesmo foi o Oscar Maroni.

A gasolina não é mais adulterada, foi o que me disse o dono do posto com cara de assustado quando perguntei. Nasce uma igreja evangélica a cada esquina, assim como um pet shop e uma academia meia boca. Pizzaria nem se fala.

O que estão fazendo com a minha cidade?
Querem acabar com o trânsito, despoluir os rios, limpar as fachadas, querem que eu respire um ar mais puro, que não pegue mais filas, nem mulher feia na balada. Que não coma mal, que não me atrase, que consiga entrar e me sentar no ônibus, metrô e trem.
Estão acabando com a minha São Paulo.
Qual será o próximo passo?
Acabar com a criminalidade?
Com a corrupção?
Ou dar um estádio para o Corinthians?

06 maio, 2010

Mesmo tão só

Daí-me forças, senhor
Para que possa continuar respirando todas as noites
Tão longe de ti
Que eu possa lidar com a solidão
De forma absoluta
Torne-me o outro
Para gozar da felicidade que em mim vigora
Que eu sinta
Mesmo tão só
E tê-la
No mais sublime sentimento existente
Que eu te ame loucamente
Para esquercer todo o mal que já me fez
Que mesmo sozinho serei forte
Que mesmo só, sempre ao seu lado estarei
Que eu me ajude
Que seja feliz, mesmo sozinho
Ainda assim me amando
Como se ainda a tivesse
Aceite
A minha triste forma de te amar, sem te ter

03 maio, 2010

Não consigo abrir meus olhos

Acordei com o sol batendo em meu rosto
Podia sentir seu calor aquecendo minha pele
Mesmo assim não consegui abrir os olhos
Permaneci imóvel por mais alguns minutos
Até que percebi que já estava com os olhos arregalados
E que mesmo assim não enxergava nada
Pensei então que fosse a luz
Que ela poderia estar ofuscando minha visão
Mas não
Mesmo não mais sentindo o calor em meu rosto, ainda assim não via nada
Levei as mãos à cabeça
Esfreguei meus olhos, mesmo assim não conseguia
Era desesperador
Não sabia onde estava
Comecei então a procurar meus óculos
Não vivo sem eles
Será que meu problema era esse?
Levantei com medo
Tateando a parede comecei a andar
Tropecei na cadeira
Esbarrei no mesa
Sempre os deixo ali
Não estava
Não consigo ver o que há em minha frente
O desespero toma conta de mim agora
Quero gritar, mas isso não adiantaria
Eu quero é voltar a enxergar
Tropeço em alguma coisa que está no chão e caio
Tento me levantar apoiando em alguma coisa
Mas nada esta ao meu redor
Deitado no chão começo a chorar
Desesperado vou rastejando quando sinto novamente um calor
Era o sol
Estava novamente próximo a uma janela
Consigo me apoiar e me levantar
Vejo que há uma pia em minha frente
Lavo o rosto, esfrego os olhos
Mas nada
Nada me faz ver o que há em minha frente
Começo a tremer
Uma mescla de raiva, ódio, um sentimento de impotência
Não consigo abrir meus olhos
Não vejo o que está em minha frente
Não sei mais fazer nada
Não sirvo pra nada
Ninguém vem me ajudar
Não sei onde estou
Grito.
Ainda trêmulo ouço passos
Vêem em minha direção
Aumentam a cada instante
De repente eles param
Ouço uma porta se abrir
A expectativa era enorme
O que seria? Quem seria?
Não posso ver
A porta se fecha
Os passos seguem agora cada vez mais distantes
O que eu sou?
Onde estou?
Por que não posso ver o que existem ao meu redor?
Sou eu que não vejo ou não querem que eu veja?
Não posso contar com meus olhos
Não tenho mais certeza das coisas
Perdi meus olhos, mas perdi também minha identidade
Insano
Se não vejo não acredito, não sou, não existo.
Morri!?

02 maio, 2010

Queria ter nascido nos anos 30...

Queria ter nascido nos anos 30
Para ter visto o mundo surgir e ajudado a construir
E não pegar tudo pronto, ao alcance de minhas mãos
Queria ter visto Canhoteiro, Didi, Vavá e Pelé
E por que não Garrincha
Queria ter visto a Alemanha surgir e ser derrotada pelos americanos
Me surpreender ao ver uma TV
Imagine o mundo hoje sem ela
Queria ter conhecido Getúlio, Juscelino, Tancredo e até mesmo Geisel
A ditadura não me faria calar, mesmo que tentassem.
Carlos Gomes, Drummond, Machado...
Ver essas Minas Gerais forte, na época do Café com Leite
Ter escutado Tom Jobim, Tião Carreiro e muitos outros
Viver sem celular, internet e essa dor de cabeça que me atormenta todos os dias
Sem o stress
Ver o Brasil virar um país
Ter plantado e ter colhido
De sol a sol
Ter criado meus dez filhos, todos com dignidade
Ah, como eu queria ter nasci nos anos 30
Não para ser Neto, mas para ter sido amigo e companheiro
Para ter te ouvido e aprendido mais com você
Para ter te conhecido melhor
Vô, que saudades de você.