16 janeiro, 2012

O pior namorado do mundo.

Já passavam das 22 horas quando ele chegou. Todo cheio de desculpas, de razões, de motivos e de “nove horas”. Havia marcado de se encontrarem às 20h. Esta já deve ser a décima vez que acontece, só neste mês. Este era João, o pior namorado do mundo.

Ele até que não fazia por mal, as coisas simplesmente aconteciam. E aconteciam sempre do jeito errado. Era pneu que furava, acidente em pleno Domingo de sol, congestionamentos ao meio dia. Parecia que esse rapaz tinha mesmo um pequeno problema com a sorte.

Trevo de quatro folhas, pé de coelho, ferraduras. Nada disso adiantava, João era assim por natureza.

Datas esquecidas. Passeios desmarcados de última hora. Filmes não vistos. Comidas que não caíram muito bem, nem no estômago nem no bolso. Ele tinha o dom para o desastre.

Marcava de buscá-la e se esquecia. Passava a semana toda e não aparecia, nem ligava para saber como estava. As flores viam murchas. Os bombons pela metade. Não sabia de um só gosto dela. Apesar de ela sempre passar na loja de doces para comprar aquele que ele mais gostava.

Quando estavam juntos na sala assistindo qualquer coisa ele até dormia. Não escondia o desgosto. Ela relutava em o animar, na maioria das vezes em vão. Ele esboçava um sorriso falso, mas que a deixava falsamente satisfeita.

Se ela vestia amarelo ele preferia o vermelho. Se colocasse o vermelho, era muito curto. O preto muito simples e azul provocante. Nada estava bom, nada o afagava.

Presentes era impossível de se dar. De nada ele gostava. E fazia questão de deixar isso bem claro. Reclamava de tanta coisa que era difícil saber o que realmente lhe agradava.

Reclamava disso e daquilo. Do sol, da chuva, do calor, do frio e até quando não tinha sol, chuva, calor ou frio. Dias amenos, desses em que se dá para fazer de tudo, para ele eram dias em que nada se fazia, não havia motivos para reclamar, e isso ele detestava. Num dia chuvoso qualquer, chegou a dizer que não a ia ver para não molhar os pés. 

Na hora do almoço era aquela tormenta, ela queria lanche e ele comida natural. Mudavam, andavam, rodavam e nunca se encontravam. Um pedia par e o outro era sempre ímpar. Acabam por comer aonde não queriam e o que não gostavam. Ela até aceitava, e ele só reclamava.

Maria, moça humilde e trabalhadeira, não reclamava do seu namoradinho casca grosa. Ela realmente o amava, apesar de seus pesares. Enxergava nele qualidades que talvez nem existisse. Ele? Ah, ele só pensava nele. Nela até que às vezes, principalmente quando a saudade batia. Aí até ligava, mas no resto do dia era por SMS que eles conversavam.

Ela sempre linda, ele sempre zangado. Ela disposta a tudo e ele querendo voltar pra casa, mesmo depois do encontro marcado há mais de uma semana. Maria só queria comer uma boa pizza, ele já queria ir pra Milão. Tomar um vinho? Talvez lá em Paris. Sonhava, sonhava e como sonhava... Os pés sempre longe do chão. Ás vezes desdenhava de Maria, até que sem querer, mas vivia criticando sua falta de ambição, seu pensamento pequeno, o seu não sonhar. Maria não ligava, era feliz ao lado dele, mesmo que longe de todo o luxo que ele sempre tanto falou que gostaria de ter.

Mas chegou um dia que nem a Maria, a mais pacata das mulheres, aguentou:

- Não quero que você mude por mim. Já aprendi a te amar com todas as suas artimanhas. Apenas quero que dê mais valor a mim. Que note o esforço que faço para ficar ao seu lado.

Malandro, José se fez de admirado:

- Logo eu que nunca reclamei de você. Que sempre fiz de tudo para ficar contigo. Isso não é justo. Acho que nem gosta mesmo de mim.

E lá se foi Maria, assim como a Beth, a Judith, a Tereza, a Cristina, a Ana, a Carol e a Rafinha.

E todo ano a sina se repetia, não por maldade ou por despeito. Era apenas esse seu jeito, já tão inerente, de ser. O pior namorado do mundo fazia jus ao nome, nunca decepcionou aos seus pensamentos, nunca se dobrou ou pensou que um dia pudesse estar errado.

- Mudar? Nunca! Elas também não fariam isso por mim.

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