24 junho, 2010

Palavras são insignificantes

Naquele momento
Naquele instante
Não havia o que dizer
Nem precisava
O jeito pelo qual você me olhava

Há momentos na vida em que ficamos imaginando como agir, o que falar, como falar
Decoramos, ensaiamos, fantasiamos
Ficamos pensando exatamente como vai ser
E quando chegar a hora estamos tão preocupados em não se esquecer que acabamos fazendo tudo errado
Aliás, errado não
Na grande maioria das vezes se sai tudo bem
Mesmo que no começo fazemos papel de palhaço
Existem momentos em que as palavras são dispensáveis
Afinal palavras são apenas palavras
Só que às vezes ditas de uma maneira errada podem colocar tudo a perder
Dizem que o silêncio não comete erros, é verdade
Mas ele os omite. Os esconde
Mas quem falou que seria fácil?
Palavras são insignificantes até o momento em que precisamos delas
O difícil é saber usá-las a nosso favor
Palavras, apenas palavras

Sim, não precisávamos de palavras
Mas eu as escutei
Saindo de sua boa e me dizendo algo que naquele momento eu não queria ouvir
Um adeus muitas vezes é o momento mais difícil
Mas apenas para quem não o deseja escutar
Para aquele que quer se despedir, o adeus acaba se tornando um alívio

Palavras são apenas palavras, mas ferem
Palavras são insignificantes, desnecessárias, diversas vezes inúteis
Os momentos dizem por si só
Palavras, apenas palavras
Mas que nunca as esquecerei
Nunca a esquecerei

A chave

Não dá pra dizer que começamos a namorar. Mas já está tudo encaminhado para isso. Hoje à noite vamos sair. Marcamos de ir ao cinema. Ela mora próximo ao shopping, então não há necessidade de ir buscá-la. Até mesmo por que ia ficar feio eu aparecer na casa dela a pé para sairmos.

É sábado, fim de tarde. Essa hora não passa. É mais fácil amanhecer o domingo do que anoitecer esse sábado.
Banho tomado, barba feita. Hora de escolher a roupa. Tenho que caprichar na vestimenta. Não sou um primor de beleza então não posso fazer feio na beca.

Meu pai me pergunta. Vai sair?
Respondo. Sim, pai. Vou ao cinema.
Sozinho? Com os amigos? Ele questiona.
Não, pai. Vou sair com uma menina. Uma amiga minha.
Ele nada fala. Volta para a sala e continua a assistir a TV.

Eu no quarto. Já devidamente vestido e perfumado começo a amarrar o cadarço do tênis. Tarefa simples não fosse o meu problema com nós. Ainda mais eles sendo pequenos.
Sentado na cama, vejo os pés do meu pai vindo em minha direção.
Ele diz: Toma.
Pensei que fosse dinheiro. Eu trabalho, tenho minha grana. Não ia precisar da grana dele, não dessa vez.

Ao levantar a cabeça mal posso acreditar no que vejo em suas mãos.
Por alguns segundos o mundo parecia estar em câmera lenta.
Da mão dele refletia uma luz muito forte, quase me cegando. Não podia ver o que ele segurava. Aos meus ouvidos o cântico do mais belo coral de vozes. Um som maravilhoso. Pareciam anjos anunciando a chegada do salvador. Esse momento deve ter durado uns dois segundos, mas foram os mais longos da minha vida.
Do mesmo modo que a luz e as vozes vieram, elas se foram.

Ainda congelado. Estático. Parecia ter morrido ali. A luz refletiu sobre o objeto nas mãos de meu pai e me despertou de meu êxtase.

Era a chave do carro.

Não podia acreditar naquilo.
Havia batido o carro já duas vezes. Meu pai sempre escondia a chave para que eu não pudesse sair. Mas naquela noite, era ele que me oferecia o automóvel. A responsabilidade era dele. E partiu de livre e espontânea vontade. Não podia acreditar.
Ele disse com uma voz bem forte: Toma cuidado!

É claro que tomaria. Mais dele do que me mim.
Peguei a chave. Uma energia jamais sentida me dominou entrando pelas minhas mãos, subindo pelos meus braços. Uma força que nunca havia sentido começou a tomar conta de mim. Invadindo todos meus órgãos e sentidos. Do nada explodiu dentro de mim. E ao me levantar pude ouvir ao fundo uma voz gritar: I got the Power!!!

Parecia outra pessoa. Não era mais um moleque. Senti até alguns órgãos ganhando um volume jamais visto. Seria esse o momento em que se separam homens de meninos?
Saí de casa. Mas antes de ir até o carro agradeci meu pai dizendo que não iria decepcionar.
Fim da sessão. Tarde da noite. Ela se despede sem saber da minha novidade. Ofereço-me para levá-la em casa. Ela no começo parecia não acreditar, então caminhamos até o carro.

Já na porta de sua casa começamos a nos despedir. Um beijo não seria uma má idéia. Apesar de estar mais preocupado com o lugar onde estacionei não conseguia tirar os olhos dela. Abracei. Beijei. E o que era para ser um beijo de despedida se transformou em vários, um seguido do outro. Já estava por avançar o sinal quando me lembrei dos conselhos do meu pai sobre transito. Freei. Ele sempre me disse que devagar sempre se chega e você ainda aproveita mais a viagem.

Eu nunca dirigi com tanto gosto no retorno para casa.

Eu nunca vou me esquecer desse dia. Valeu Pai. No dia dos namorados o presente é seu.

20 junho, 2010

De cada copo

Já bebi
Nem sei quantas foram às vezes que bebi para te esquecer
E adiantou?
Momentaneamente sim
Pena que o efeito do álcool é passageiro e logo todas as lembranças vem à tona
Não há mais nada que eu possa fazer
Já se tornou um vicio
Meu vicio de te querer e o de tentar de esquecer
Mesmo usando as ferramentas erradas eu vou tentando
E na maioria das vezes me ferrando
Me prejudicando e até magoando pessoas que nada tem com essa história
Mais uma vez a noite vem e com ela todos os pensamentos se voltam a você
A solução está dentro de qualquer garrafa
De cada copo, com gelo ou sem
Pena que passageira
Logo a saudade vai embora e se transforma em embriagues
Já não é mais novidade para ninguém
Mais uma vez vou beber para esquecer
A culpa é sua?
Não. É minha
Sou eu que insisto em continuar fazendo você existir
Se existe um culpado nessa história sou eu
Mas não estou aqui para incriminar ninguém
Lá vou eu tentar tirar você da minha cabeça
Logo no primeiro gole é impossível
Outros virão
E mais outros
Nem mesmo todos eles são capazes de me satisfazer
Só você é possível
Minha companheira é solidão
Dela não consigo me livrar
Parceira de tantos momentos
Inclusive daquele

17 junho, 2010

Com outros olhos

Como foi mesmo que tudo isso começou?
Uma trocar de olhares?
Uma conversa informal?
Você sempre esteve do meu lado
Eu que nunca havia notado
Mas chegou um dia em que eu te vi
Olhei para o lado e você estava lá
Linda. De uma forma que eu nunca tinha notado
Como pode me passar desapercebido por tanto tempo?
Ontem você estava exatamente no mesmo lugar, com a mesma maquiagem, o mesmo batom.
O mesmo perfume.
O cabelo está exatamente da mesma forma. Soltos
Mas te notei
Puder vê-la com outros olhos. Será?
Então fui eu quem mudou
Eu estou diferente
Mas sou o mesmo
Você que não é
Mesmo não mudando absoltamente nada, você mudou
Mudou para mim
Eu não sei, ainda estou confuso
Como posso dormir numa noite e ao acordar descobrir que você sempre esteve ao meu lado e eu nunca havia notado?
Explicação deve haver. Mas pra que?
Você está ali, é só agir. Mas devo?
E se for tarde?
Hoje me cumprimentou de um jeito diferente
Mas para você pode ser comum e o diferente pode ser só para mim
Será que você já notou que eu mudei?
Tudo isso pode ser apenas coisa da minha cabeça
Confusões de uma mente já confusa. Estressada, entediada, cheia de dúvidas e que está casada de procurar por alguém
Não. Não procuro
Não. Não entendo
Deixa pra lá. Deve ser só mais um delírio

15 junho, 2010

Um dia daqueles

Ainda é sexta. Noite de orientação. O TCC é o projeto do ano. É dia também de bar, logo depois da faculdade a galera se reunirá para tomar umas cervejas e comer alguns salgadinhos. Não vou beber muito como de costume. Tenho um compromisso no sábado. Não posso faltar.

São 4 horas da manhã de sábado. Chegando em casa, ainda sob o efeito da promessa não cumprida. É, bebi. E não foi com moderação. Melhor dormir, descansar. Amanhã o jogo é às 13h.
11h30. Acordo assustado. Sabia que tinha perdido a hora. Até coloquei o celular para despertar. Mas deve ter acabado a bateria. Já que estou atrasado vou de carro, é bem mais rápido.

Bola, chuteira, bermuda, meião... É, tudo certo.

Trânsito no caminho. Por essa eu não esperava, não num sábado de manhã. Mas vai dar tempo. E agora, 23 de Maio ou Marginal? Melhor a segunda opção, com sorte em meia hora estou lá. Um idiota me fechou e perdi o acesso da pista expressa. Vou pela local, logo tem outra entrada. Mas...

Um susto. Bati? Não! Acidente? Não! O carro morreu. Muito estranho, não liga. Encosto. Abro o capô. Não que entenda de mecânica automotiva, mas alguns problemas são visíveis. Aparentemente está tudo ok. Pode ser a bateria. Mas ela é nova... Entro no carro e dou partida.
Nada. Do mesmo nada vejo um problema. As luzes acendem, mas o ponteiro da gasolina não se move. Seria falta de gasolina? Como posso ser tão burro a ponto de não notar o ponteiro na reserva? Bom, vamos a um posto. É só comprar gasolina e prosseguir o meu role.

Descubro então o segundo problema do dia. Ao arrumar as coisas do futebol troquei de mochila, a carteira ficou na outra. Burro. Saí sem carteira, sem dinheiro e sem habilitação. Maluco. E agora, o que fazer?

Só há uma solução. A única sensata no momento. Ligar pra mamãe.
Mas como diz o ditado, desgraça pouca é bobagem. Eis o terceiro problema do dia. O celular. Ele não despertou. Estava sem bateria, por que haveria te estar funcionando agora?
Pensei neste momento em perguntar “o que mais poderá dar errado”, mas fiquei com medo de conseguir uma resposta.

Já havia pensado em trancar o carro e voltar pra casa, mas o bilhete do ônibus também havia ficado na outra mochila. O problema era a mochila? Era a pressa? Era a PQP!!!
Tirei o carro da rua. Coloquei na calçada. Só me faltava um CET me multar. Completaria o dia.

Vejo um telefone publico a uns 30 metros. Tranco o carro e vou até ele. Quebrado. Não era mesmo o meu dia. Mas a frente há um posto de gasolina. Mas quem te disse que em posto há telefones públicos? Conversei com o frentista. Expliquei parte da história, explicá-la toda seria vergonha demais. Ele me emprestou o celular. Minha mãe se assustou, não entendeu nada, ma disse que viria.

Pouco mais de 1 hora depois ela aparece, esse tempo, que para mim demorou mais que uma vida, passaram por mim milhares de carros, de motoristas que se soubessem ririam de mim.
Agora era fazer alguém acreditar nessa história maluca e justificar minha ausência no já sagrado futebol de sábado. A história até que era boa, mas mente de jornalista é muito fértil, vá saber. Ainda mais aquele pessoal que não acredita em nada.

Coincidência? Destino? Praga? Azar?
Sei lá, mas da próxima vez eu vou de ônibus.

14 junho, 2010

Carta aberta ao leitor (sic)

Esses dias uma amiga minha, leitora deste blog, acho que umas das poucas pessoas que ainda perdem o precioso tempo lendo as besteiras que escrevo, reclamou que não estava mais postando. De fato não estava mesmo. Mas me justifico.

A maioria das ideias, pelo menos comigo, surgem na rua. A grande maioria dos meus textos foram escritos dentro do ônibus enquanto voltava da faculdade. Nas madrugadas frias de São Paulo. O que por si só já me é uma grande fonte de inspiração.

Dentro dos ônibus me deparo com situações diversas. Com centenas de pessoas estranhas. Que nunca vi e que nunca voltarei a ver, muito provavelmente.

Sendo assim só me resta a distração. Que me leva a pegar papel e caneta e escrever. Simples assim.

Mas nos últimos dias essa situação não mais se repetiu. Saí do trabalho. Entrei em férias escolares. E dificilmente saio de casa. Mesmo assim ainda consegui escrever alguns textos.
Mas aí veio o TCC. Tenho que dar uma baita atenção a ele. Não tem como, é o trabalho do ano. O trabalho da vida. Até o momento, pois sei que outros virão. Mas isso também não é desculpa.

Notei que a quantidade de texto vai diminuindo a cada mês. Mas vocês têm que notar que a qualidade deles vai aumentando. Brincadeira, quem me dera.

Agora veio a gota d'água. A Copa do Mundo.

Não tem como competir com ele. Mesmo indo dormir muitas vezes mais de 2 horas da madrugada acordo todo dia às 8h20. É o tempo de me preparar para as 8h30 sentar em frente à TV e assistir ao primeiro jogo do dia.

Apesar de viver reclamando que nunca tenho nada para fazer quando estou em casa, não consigo parar, como agora, para escrever um simples texto. Não tenho onde buscar inspiração. Mas prometo tentar.

Sei que quando tive a ideia de refazer meu blog, até agora não entendo por que deletei o anterior, o pior foi ter perdido todos os meus textos antigos, mas prometi dessa vez manter essa brincadeira. Tem gente que gosta, tem gente que lê.

Isso não é uma satisfação. Não devo isso a vocês. Devo isso a mim. Vou postar quando quero, quando acho que devo. Quando tiver algo realmente interessante para colocar aqui.

E vocês, nobres leitores, vão caçar o que fazer. Tem muita coisa mais importante do que ficar olhando meu blog para ver se tem post novo.

Obrigado a todos que acessam. A cada comentário é uma vontade a mais para continuar escrevendo e surpreendendo a muitos, inclusive a mim mesmo. Vamos ver aonde isso aqui vai me levar. E que não seja para o Juqueri.

Significado do Protesto Negro - Florestan Fernandes

A Lei Áurea (Lei Imperial n.º 3.353), sancionada em 13 de maio de 1888, foi a lei que extinguiu a escravidão no Brasil.

Essa seria a solução para o problema da escravidão que desde os primórdios do “descobrimento” do Brasil fazia com que negros fossem tratados não como humanos, mas sim como mera mercadoria. Como animais, eram vendidos pelo porte físico, pela força que tinham para exercer tarefas árduas. O mercado de escravos poderia se assemelhar ao de venda de cavalos, os mais fortes e vistosos custavam uma fortuna. Os fracos ficavam por último. Mas isso existe até hoje, até por que vivemos num mundo onde os fracos não têm vez, mas isso é assunto para outro texto.

A Lei Áurea pôs fim à escravidão no país. Desde então o problema passou a ser outro, a discriminação racial. Numa sociedade em que o negro era visto como um animal, como passar a conviver normalmente com esses “novos seres”?

Penso que para algumas pessoas, o 14 de maio de 1888 possa ter sido ao mesmo tempo o dia mais feliz e o mais estranho da vida. O que fazer a partir do momento em que se poder fazer o que bem entender? Um escravo então liberto iria fazer o que para se alimentar? Procurar um trabalho digno ou continuar com sua vida escrava. Vida essa única que conhecera até o momento.
A sociedade não recebeu os negros da forma mais afável possível, foi uma relação difícil. Se ainda hoje é assim, o que dirá de cem anos atrás?

Nascia então o preconceito racial. Tudo bem que ele já existia. Mas a relação era diferente. Não era de branco para negro, mais sim de dono para mercadoria.

O negro passou a ser visto com outros olhos, não eram mais escravos, eram a partir de agora cidadãos como todos os outros neste país. Mas não teriam os mesmos direitos. Os negros nunca foram tratados como membros da sociedade, estavam sempre a parte. Isso gerou o que se pode chamar de marginalização racial. Não conseguindo espaço na sociedade, os negros passaram a viver isolados, nos chamados quilombos (um local de refúgio dos escravos). Essa da realidade avançou e chegou aos dias de hoje, não há como não comparar esses quilombos às favelas e morros, onde em sua maioria vivem pessoas que descendem de negros.

Mas o negro parece ter acordado para sua cruel realidade. No início deste século, parece não haver dúvidas sobre a consolidação do movimento negro no cenário das lutas sociais do Brasil. Seu combate contra o racismo chega de modo bastante forte e atuante. Numa demonstração de importância em relação ao conjunto dos movimentos sociais. Graças a isso, a discriminação racial, que é um dos principais problemas estruturais da nação brasileira, ganhou uma ampla visibilidade social. O que, de certa forma, forçou mais uma vez o debate sobre a questão racial no Brasil e a situação dos negros.

11 junho, 2010

Caminhos a seguir

Já estou me cansando desta vida de adolescente que estou vivendo nos últimos dias.

Acordar tarde. Ligar o computador. Navegar na internet. Assistir aos programas de esporte na TV. Possivelmente a todos os jogos da Copa do Mundo FIFA 2010. Voltar para o PC. Ficar acordado até altas horas.

Até parecia divertido. No começo foi mesmo. Agora está me perturbando.

Meu dinheiro acabou. Não vejo formas de conseguir uma grana em um curto prazo, não licitamente.

Será que escolhi a profissão errada?

Será que o jornalismo foi um grande equivoco e eu perdi quatro anos da minha vida?

Quando se está próximo do fundo do poço tudo se parece mais dramático.

Sei que não é o meu caso. Mas não gosto de ter 15 anos quando na verdade tenho 23, quase 24. Não gosto de ver meus pais pagando minhas contas. Me sustentando. Como se eu fosse um imcapaz, um inútil, um estorvo.

Não gosto de vê-los me olhando, com aquele olhar. Ah, aquele olhar. Nunca vou esquecer. Com palavras me confortam, mas os olhos nunca nos enganam. Olham-me como fracassado. Não sou o que pensavam que seria. Não tenho culpa. Mas não sou o melhor filho do mundo apesar de ter os melhores pais do mundo. Desculpa. A culpa é só minha.

Ficar em casa é um saco. Não tenho mais nada para fazer. Estou cada dia mais sedentário. Tem dia que nem saio na rua. Em outros o lugar mais longe que vou é até a sala para ligar a TV. Se eu percorrer 500 metros por dia é muito. Como vou acabar assim? 200 quilos? Obeso e em busca de tratamento no SUS? Espero que não, mas nem sei mais.

Não sei onde errei. Talvez tenha sido demais arrogante, presunçoso. Talvez se baixasse a cabeça às vezes não estaria desempregado novamente. Essa postura de confrontar meus chefes não vai me levar a nada. Aliás, vai me levar ao fracasso.

Ser jornalista a cada dia me parece um sonho distante.

Melhor eu parar de sonhar e acordar para minha realidade.

Não vou poder ficar assim por muito tempo. Preciso de uma solução em curto prazo. A médio já tenho a faculdade. Esse ano acaba. E aí, ano que vem será o que? Nada. Absolutamente nada para se fazer o dia inteiro? Parece que estou regredindo. Hoje tenho 15 e em breve posso voltar a ter cinco.

Tenho caminhos a seguir.
Decisões a tomar.
Só não posso errar novamente.
Se é que eu errei.
Só o destino vai me dizer.
Mas eu não acredito em destino. Não acredito no amanhã, sempre vivi o hoje.
Melhor começar a mudar de idéia. O amanhã é de fato uma icognita. Mas o hoje não é a mais bela manhã de primavera que sonhei para mim.

05 junho, 2010

Um único abraço

Já era noite de domingo. Eu não tenho o costume de sair. Prefiro ficar em casa tomando meu Rum.

Não tinha nada em vista. A noite seria só minha e do pirata.
Seria. Não foi. Não tinha nada marcado. Não esperava por ninguém. Os amigos já nem me chamam para sair, sabem que prefiro ficar sozinho.

Pode soar depressivo, triste. Mas não é. Uma noite a só consigo mesmo pode ser muito interessante, e acredito, sei do que estou falando.

O telefone tocou. Estranho, não era ninguém. Mas pude ouvir que do outro lado da linha havia uma respiração ofegante.

Devia ser engano. Não era. Em menos de 20 minutos o fui surpreendido pelo interfone, era o porteiro avisando que uma moça estava querendo falar comigo. Perguntei a ele o nome da mulher, mas ele não sabia me disse que ela se recusou a dizer.

Pedi então que a descrevesse.

Não podia ser. Fiquei estático, por alguns segundos o tempo parou. Não podia acreditar no que ele estava me contando. Era você. Só poderia ser. A descrição era perfeita.

Nem desliguei o aparelho, apenas o soltei ainda com o zelador falando, nem liguei para o elevador, desci os sete andares pela escada, feito um louco. Pulando vários degraus e tropeçando em alguns.

Cheguei à portaria e vi sua silhueta através do vidro. Meu coração quase saltou pela boca. Mal podia acreditar que você veio até a mim. Estava tão só. Sinto tanto a falta de alguém. Mesmo não admitindo, ninguém gosta de ficar sozinho.

Contei cada passo até a porta A respiração ofegante nem era por causa da correria nas escadas, era a esperança de te ver.

O desejo de te reencontrar. A saudade. Ah, a saudade. Ela que me faz delirar à procura de você e ela mesma que me diz todas as noites que não vou te ter.

Cheguei à porta. Naquele momento só queria um abraço. Mais nada. O mundo poderia acabar que morreria feliz. Um único abraço era tudo o que eu mais queria, tê-la novamente em meus braços, sentir seu coração, sua pele, tocar suas mãos. Acariciar seu rosto, ver meus dedos entre seus cabelos.

O telefone tocou. Era meu chefe. Bebi demais. Adormeci ainda no sofá, perdi a hora, perdi meu sono, perdi meu sonho, perdi você.

02 junho, 2010

Invisíveis!?

Andei pelo centro nos últimos dias.
Pude reparar em um dos projetos do Governo do Estado juntamente com a Prefeitura da Cidade de São Paulo.

A chamada “Nova Luz” está a plenos pulmões.
O projeto de revitalização de um dos bairros mais castigados da região central está funcionando. É o Governo e a Prefeitura, enfim, trabalhando juntos.

Essa área próxima a estação da Luz ficou nacionalmente famosa por abrigar inúmeros usuários de crack. Não só consumidores dessa droga, mas também por traficantes. Era uma favela nas ruas do centro, a chamada “Cracolandia”. O mundo viciante das drogas. O paraíso para qualquer viciado. Seja ele de classe média, alta ou baixa. Rico ou pobre. Trabalhador ou vagabundo. Todos convivendo em perfeita harmonia.

O projeto de revitalização incluía a retirada dessas pessoas dali. O que se esperava era que elas fossem encaminhadas para algum tipo de serviço social ou que pudessem freqüentar uma clinica de desintoxicação para se tratar e enfim se livrarem do vicio. Mas isso não pode ser imposto, essa vontade deve partir do próprio usuário. Ele não pode ser forçado a se tratar, infelizmente quanto a isso não se pode fazer nada.

E aos que fazem da região um comercio ilícito, que vivem da venda do crack, ou de qualquer outra droga, o que se espera de nossos governantes é que se punam essas pessoas. Exemplarmente.

Pena que o que é bom dura pouco. Andei por menos de cinco minutos, saindo da região da Luz até a Praça da República. A cracolandia simplesmente se mudou. Andou menos de 2 km e hoje se encontra na região da Praça da República e nas ruas escuras de seu entorno.

Como um verdadeiro nômade, ela caminha para se abrigar em outro lugar.

Não há como ignorar esse problema.

Já no viaduto Orlando Murgel, um ponto mais afastado do centro, entre os bairros de Campos Elíseos e Barra Funda, sou obrigado a conviver com esses usuários diariamente. Escondidos sob a mureta. Esse pequeno muro os esconde da policia. Mas não é só isso, parece separá-los do mundo, da sociedade. Um muro capaz de torná-los invisíveis por quem passa por ali.

Na ponta do cachimbo uma brasa, uma droga, na outra o que sobrou de um ser humano.

Um caminho sem volta.

Mas quem sou eu para indicar o retorno?