22 abril, 2010

H1N1

Em tempos de vacinação, tive a idéia de relembrar meu primeiro post no 7cismo. E foi mais ou menos assim:

Resolvi sentir na pele como é vista uma pessoa que supostamente está infectada com o vírus da Gripe A. Digo supostamente porque não é possível afirmar que uma pessoa está gripada ou não só de olhar para ela. Pedi a minha mãe que trouxesse algumas máscaras descartáveis do hospital onde trabalha. Ao sair na rua, as poucas pessoas que por lá estão sequer me notaram, apenas alguns senhores jogando dominó no bar próximo de minha casa. No bar seguinte cumprimento um senhor torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras que me manda tomar cuidado com a gripe do porco, nada fora do normal até ai. Só um olhar mais atento da dona do bar.

Chego ao ponto de ônibus, e ai sim viro o centro das atenções. Mais parecia ter saído nu de casa, mas a reação já era esperada. Alguns olhares espantados, outros com um pouco de pavor, mas tudo dentro do esperado.
Dentro da lotação me senti um ser de outro planeta, demorou bastante até que alguém se sentasse ao meu lado, era o único lugar disponível. Aproximadamente no número 2500 da Estrada do M Boi Mirim desço da lotação para tomar um ônibus que leve direto ao centro. O ônibus demora e as pessoas no ponto começam a me observar com mais atenção que o normal. Os passageiros que passam em outros veículos também me observam com uma atenção maior que o normal.

Até que enfim o Praça Julio Prestes prefixo 609-M chega, ao adentrar sou encarado pelo cobrador que nada fala, nem precisava era notável a sua surpresa. Os passageiros vão entrando, me olham com curiosidade, mas continua tudo dentro do normal. Até que percebo que um dos homens que estão em pé começa a me olhar com um modo diferente. Naquele momento me senti indo para um jogo do Corinthians com a camisa do São Paulo F.C. Parecia que a qualquer momento ele iria dizer alguma coisa, ou que poderia até me tirar do meu assento. Mas logo ele desceu e minha tensão diminuiu.

Ao descer próximo ao Terminal Princesa Isabel já era noite, poucas pessoas na rua notaram a minha máscara. Um grupo em frente ao prédio da Porto Seguro veio em minha direção, mas não demonstraram nada de incomum. Ao chegar ao Viaduto Orlando Murgel um senhor aparentemente bêbado me diz algumas palavras, infelizmente não consegui entender o que ele me disse.
Já dentro da faculdade ganho novamente um destaque maior que o habitual, exceto de meus colegas de classe que já conhecem as minhas loucuras. No retorno para casa vou até o Terminal Bandeira, outro local de bastante movimento, mas o máximo que recebo são alguns olhares mais atentos. Ninguém parecia se incomodar.

No primeiro dia de reportagem não vi nada que pudesse ter me chamado a atenção, mas o preconceito me pareceu um tanto quanto exagerado, afinal só usava uma máscara e em momento algum disse estar doente, mesmo assim ganhei um destaque muito maior que o merecido, um destaque negativo, como se eu tivesse culpa por estar ali.

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