04 agosto, 2010

Apenas um amigo

Eu não tenho amigos
Moro sozinho, se é que dá pra chamar isso aqui de morar
Eu vivo
Insisto todo dia em continuar por aqui, vivendo
Eu não se te explicar como eu vim parar aqui
Não sei o que aconteceu, o que deu errado
Também não fico procurando culpados
Muito menos desculpas
É claro que eu quero outra coisa, uma vida descente e tal
Uma casa
Um lar
Mas enquanto esse dia não me chega faço daqui o meu lar
Muitos me olham, outros me ignoram
Uns tem pena, dó
Outros pensam que estou aqui por que mereço
Não reclamo

Observo tudo e a todos
Já sei quando vai fazer calor ou quando vai esfriar
O frio nem é o pior nessa vida
Eu até me viro para me esquentar
Complicado mesmo é quando chove
Uns, como o cara que está escrevendo este texto, me dão atenção
Não que eu queira muita coisa, me contento com o pouco
Não precisa ter medo de mim, eu não mordo
Faço cara de mal apenas para espantar alguns inimigos
Há quem não goste muito da gente
Eu queria ser seu amigo, mesmo que de mentira
Mesmo que por alguns minutos, às vezes segundos
Eu não tenho ninguém, mas qualquer atenção já me faz feliz
O mais feliz do mundo
Não se importe com o meu amanhã, às vezes ele nunca chega
Eu mesmo já aprendi a viver apenas o hoje.
Sei que você tem um amigão (amigona) em casa, não brigue com ele.
Vocês já passam o dia todo separados, ele só quer um minutinho da sua atenção.
Tudo aquilo que eu não tenho aqui.

O vira-lata que serviu de inspiração para este texto morreu dois dias depois de eu ter o encontrado e escrito este texto. Morreu atropelado. Eu nunca mais vou vê-lo, mas sei que existem muitos outros como ele por ai.

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